sábado, 29 de dezembro de 2007

uma estrela cadente

Os sentimentos não se dão. Porque não existem.
Mas qualquer coisa merece uma essência, por mais efémera e abstracta que seja.
E a fantasia é a força dos segundos.
Por isso, cada dia é uma dor, um amor, uma cor.
E choro, feliz, e rio, chorando.
E vivo, morrendo.

desta vez não sou eu

ele disse não ia escrever nada porque não tinha inspiração. mas insisti para que escrevesse e disse-lhe: liga lá isso, que o texto aparece, se não escreveres tu escrevo eu. E comecei a escrever pelas mãos dele, sentindo a sua pele, roendo as suas unhas, chorando dos seus olhos. Não sei como fiz aquilo, nem o conheço. mas agora vou sair daqui e hei-de voltar um dia e rir outra vez.
quando morrer não vou sozinho: levo a inspiração,
mesmo sem respirar.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

A poesia não existe.

pelo menos eu não a vejo
isto são apenas palavras estúpidas
e sem sentido que são dispostas
desta forma para parecer um poema

agora escrevo outra quadra
assim de baixo para cima
e até faço uma rima
só para mostrar que sei.

e não sou poeta nem escritor.
só grito com os dedos no computador
ninguém me ouve
ninguém me lê
mas eu disse com palavras
que não existem
porque não são um poema, que não se vê
porque não existe.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

dores de cabeça

o mundo é a fantasia que representamos dentro dos nossos olhos.
o reflexo na água é tão fictício como a imagem que se diz reflectida
que sabe ela da sua existência?
que sei eu do homem que vejo no espelho?
não sei nada porque nada posso saber,
toldo a minha própria visão
esqueço-me já de que penso. penso?
estes dedos que penso comandar, porque o faço deste modo? são meus?
o que é isto? que me comunicam estes símbolos?
que quer eu dizer com eles?
para que servem as interrogações se não me respondem?

terça-feira, 6 de novembro de 2007

suores frios

a esperança difusa e inquietante foge-te e acabas com os teus medos ainda que os sintas mais do que nunca.
a dorzinha, aquele frio na barriga transforma-se numa autêntica diarreia cerebral e só sai estupidez disparatada da tua boca. não consegues evitar, tentas e tentas, mas não consegues dizer duas palavras com sentido.

repugnante.
contradizes os teus ideais e mudas de pele mais vezes que uma cobra.

és o lobo e o cordeiro.

e não és nada no fundo porque não vives
a tua vida
não consegues seguir o caminho que traçaste
não
não te quero aqui
deixa-me.

sábado, 6 de outubro de 2007

Há Palavras Que Nos Beijam

Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.


Alexandre O'Neil

domingo, 16 de setembro de 2007

Das Palavras

As palavras são aquilo que grito, que como, que tento esquecer. Não existo sem falar, nem gritar, ouvir ou pensar surdamente. Daí que a minha insignificante essência apenas se resuma a um amontoado imaginado de palavras que se apresentam como uma canção de embalar que ninguém ousou ouvir, pela morbidez transparente. Loucas letras, saem pela ponta dos meus dedos, e dizem o que não quero, fazendo-me errar e não conseguir fazer a minha boca mexer-se à mesma velocidade em que penso. As palavras contraem-se, esquecem-se e negam-se, mas sem elas não há ser, correm-me nas veias, erráticas dentro de mim, esperando o momento certo para se conjugar: penso em palavras; corto-me, há palavras que jorram de dentro de mim, vermelhas, sujas, ansiosas pela luz do sol e pelo ar putrefacto que não tinham imaginado. Penso nas imagens e logo palavras me enchem os olhos, toldando outras vontades inatas, que se recalcam nos lugarejos mais recônditos da minha mente. As palavras esgotam-nos, fazem-nos perder, magoam-nos e não se preocupam. As palavras que eu tenho são diferentes das tuas e não gostam de se misturar. Os meus sonhos são palavras em forma de nuvem que não se materializaram e que se mostram como aquilo que julgo querer, mas que não sei ao certo: são as utopias inventadas que não significam sensações nem momentos de êxtase. Estas palavras são fotografias egocêntricas que tentam desesperadamente expulsar este monstro de dentro de mim, eliminar o mal-estar, apagar o desconforto e desligar o interruptor do negrume, deixando descansar outra vez a besta, até que os níveis de adrenalina se tornem outra vez insuportáveis e o mau génio da lâmpada volte a aparecer, desejoso. As palavras fazem-me voar, talvez nas nuvens em que nunca toquei, ou nos tapetes mágicos que passam na rua, ondulando de felicidade. Sou enganado por palavras, que me são remetidas por outras palavras falantes: sou ingénuo de palavras e não as uso como elas merecem. Vejo-me nas palavras que suo como o mar se vê nas ondas que manda morrer na praia, abandonando-as à sua sorte, adivinhando as letras que se organizarão nos seus últimos sussurros. As minhas palavras são ditas, riscadas, apagadas, esquecidas. São minhas: trazem do meu sangue nas suas próprias veias de palavras. Mas no fundo são só palavras, banais, ditas sem sentido e sem contexto, escritas sem fim designado. Fruto de devaneios de loucos e sábios. Verdes, douradas e invisíveis. Tristes, bêbadas, estúpidas, egoístas, difíceis, vazias, complexas, decepadas e quietas. São as palavras.

sábado, 8 de setembro de 2007

palavras gastas

vou mudar os móveis de sítio e limpar os restos de um pó que o tempo acumulou por ali não passar ninguém. e voltarei a metê-los no seu devido lugar, até que não faça mais sentido esperar pelo que não vem.

O Monstro

descobri um monstro debaixo da cama
que não me deixa dormir à noite
e me aterroriza o quarto de dia.
alimenta-se dos meus sonhos
e vai parindo os meus pesadelos;
foge-me o sono com o medo
e lá fico acordado outra vez:
temendo que o monstro seja eu,
ou alguma besta fantástica
que inventei dentro de mim.

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

rajadas

gotas de vento pingam do céu e enchem-me os olhos de uma vermelhidão dolorosa: não choro porque arde e não rio porque dói. não existo porque não posso sentir. apenas persisto neste vale profundo, soterrado no lodaçal das marés.

sábado, 18 de agosto de 2007

Novidade!


Desculpe, foi engano.

domingo, 5 de agosto de 2007

letras de uma música sem letra

a falTa quE arde No pensamento
Há já tempOs que
me troca maiúsculaS e minúsculAs assim estUpiDAmente
sem que Diga o que quEro
e Sem querer o que digo
deixando-me assim confuso
com as
palavras Trocadas
e as l e t r a s descasadas
nUma miscelâneA de versos soltos
e Sem sentido.

domingo, 8 de julho de 2007

Poemas Mortos

Não me apetece, não me apetece mesmo.

Dissiparam-se as letras da língua que não falo.
Não te incomodes, não tenho vontade.
Como sempre tudo morre antes de nascer.
Não insistas, não quero mais.
As histórias ciciadas por monstros debaixo da cama.
Já disse que não quero mais.
Furacões que se engolem, fortalecem e morrem.
Tenho o suficiente, para mim chega.
Mas come só mais um biscoito.
Não, obrigado. Não me apetece mais.

segunda-feira, 2 de julho de 2007

"Sorrow"


Sonata ao Luar, de Ludwig van Beethoven (versão adaptada e vocalizada)

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Heterónimo Número Três

Aborreces-me
com essas manias
de divisões em caixas estanque,
que não deixam a doçura tocar-se,
fazendo-a sofrer com a separação.

Assim não.
Cria a ligação.

E apaga a luz quando saíres.

sábado, 23 de junho de 2007

Selvagem

Supondo que és eu e que em eu há tu,
quantos tus e quantos eus somam os meus eus e os teus tus?
A matemática deste coração com asas não cabe em sinapses...
Daí que nenhum dos meus eus tenha encontrado um dos teus.
Foste para onde o vento não leva os meus suspiros.
O muro de vidro tapa secretamente um silêncio morto que não nos pertence.
Que mensagens? Que reviravoltas andam lá no meio?
Que identidades trocadas se reviram na miscelânea dos sonhos?
Que tesouros se descobrem a si mesmos dentro de cavernas?

sábado, 16 de junho de 2007

um mundo confuso

a noite empoeirada
ordena-me o movimento...
re vol vo - me na cama:
revolvo-te na memória
lúgubre e ténue
dos momentos felizes.
o luar não me deixa ver,
imagino os traços de um rosto
como se não houvesse tempo.
mas não te sinto aqui.
viro-me para o outro lado
e não durmo outra noite.
..........
demora tanto até as pálpebras
pesarem e fecharem-se sem doer.
abrem-se numa eternidade instantânea
que parecia real.
..........
sonhos doces, os meus.
tens uma coisa no nariz.

domingo, 10 de junho de 2007

13

Quero-te aqui
bem pertinho.

não me deixes
tenho medo...
vem cá. dá-me
um beijo doce
como da outra
vez. olha-me.
profundamente
e devagar com
o ser quieto.
duas palavras
fugazes assim

domingo, 3 de junho de 2007

Silêncio

A expressão que mostras nas fotografias é um ser estranho: não conheço. E então anseio o conhecimento deste novo tu, que me grita aos ouvidos e me preenche a mente. Não sei que arrepios doces ou salgados me provocas, enquanto sabes de cor que os meus olhos te seguem na escuridão do céu, largando-te apenas quando não conseguem mais suportar a exaustão.
Julgam eles que sabem. Sonhos...

sábado, 2 de junho de 2007

agitação nocturna

Não. Não consigo dormir. Não consigo deixar o meu cérebro desligar-se do mundo e esquecer. Até já falo baixinho. Parece que todas as palavras do mundo me entram nos ouvidos ao mesmo tempo. Os lençóis enrolam-se no meu corpo apertando-me no teu corpo imaginado. O calor faz-me querer rasgar a pele e sair de dentro desta morte quente. Suo e quero o tempo. Quero descansar. E não consigo. É então que vejo tudo o que não fiz hoje e que tive uma vontade inconcebível de fazer. Mas falta qualquer coisa. Falta sempre qualquer coisa. Qualquer coisa que não entendo. E que não sei se quero entender.
Mas qualquer coisa.

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Túnel de Sombras Dispersas

Grito no escuro.
Baixinho para não acordar ninguém.
O sono foge de mim
como aquilo que não tenho.
As palavras entram-me pelos olhos e saem-me pela nuca
formando combinações estúpidas que não entendo.
Não penso; não sei pensar. Esqueci-me.
Não amo. Não sei amar. Esqueci-me.
Tento libertar-me
e voar, mas não.
Esta música, que me devia acalmar,
puxa-me os cabelos.
Terrível, o vento leva-a, ecoando,
fazendo-me lembrar outra vez
desta falta de nada, este deserto abundante...
Ainda falta tanto.


sábado, 19 de maio de 2007

Um resto de Nuvem


O tempo passou por mim como o vento pelas folhas das árvores: fez-me cócegas e eu não me ri. Persisti na ignorância impia dos minutos, inquisidores dos sorrisos das pessoas. Tudo passa por mim sem criar raízes, tudo foge na corrente dos dias. As poucas certezas que julgo ter escorrem-me pelos dedos como água, enquanto os meus sentimentos morrem e renascem num fenesim assustador.

segunda-feira, 19 de março de 2007

Palavras


O mar as leva,
o mar as traz.

Presas em garrafas de vidro verdes.
Navegam até uma praia distante
que mora no teu ouvido.
Ondas de saudade e de paixão
rolam e embatem nas rochas do teu coração.
Naufragam enfim
noutros portos,
noutras ilhas,
noutros mares.
Onde conhecem
outros olhos,
outros ouvidos,
outras praias.