Heterónimo Número Três
Aborreces-me
com essas manias
de divisões em caixas estanque,
que não deixam a doçura tocar-se,
fazendo-a sofrer com a separação.
Assim não.
Cria a ligação.
E apaga a luz quando saíres.
Aborreces-me
com essas manias
de divisões em caixas estanque,
que não deixam a doçura tocar-se,
fazendo-a sofrer com a separação.
Assim não.
Cria a ligação.
E apaga a luz quando saíres.
Supondo que és eu e que em eu há tu,
quantos tus e quantos eus somam os meus eus e os teus tus?
A matemática deste coração com asas não cabe em sinapses...
Daí que nenhum dos meus eus tenha encontrado um dos teus.
Foste para onde o vento não leva os meus suspiros.
O muro de vidro tapa secretamente um silêncio morto que não nos pertence.
Que mensagens? Que reviravoltas andam lá no meio?
Que identidades trocadas se reviram na miscelânea dos sonhos?
Que tesouros se descobrem a si mesmos dentro de cavernas?
a noite empoeirada
ordena-me o movimento...
re vol vo - me na cama:
revolvo-te na memória
lúgubre e ténue
dos momentos felizes.
o luar não me deixa ver,
imagino os traços de um rosto
como se não houvesse tempo.
mas não te sinto aqui.
viro-me para o outro lado
e não durmo outra noite.
..........
demora tanto até as pálpebras
pesarem e fecharem-se sem doer.
abrem-se numa eternidade instantânea
que parecia real.
..........
sonhos doces, os meus.
tens uma coisa no nariz.
Quero-te aqui
bem pertinho.
Este blogue é resultado quase exclusivo da minha inspiração. Posso afirmar que ela é como o mar: umas vezes é doce e calma, não faz ondas, não se manifesta; e outras vezes explode em todo o seu esplendor e tem uma força capaz de partir rocha e de formar furacões.
Os gritos que escrevo são como o barulho das ondas, causam impacto e assustam ao princípio, mas acabam todos em espuma. A minha poesia vive neste ciclo sem fim: a morte de cada onda significa uma oportunidade de outra se poder mostrar.
Está aqui exposto um pedaço de mim: todos os sentimentos de que não consigo falar, todas as histórias que tenho medo de contar, todos os pormenores que tento dissimular. Peço por isso um empréstimo às palavras para que me auxiliem na tarefa de dizer o que penso e sinto. Dizem que as palavras não são de ninguém. De facto, não as posso considerar minhas, independentemente da infinitude de vezes que as escreva. Que as palavras sejam de quem as lê. E que quem as lê as deixe entrar pelos olhos dentro e as sinta como suas. Espero ter o prazer de adicionar alguma coisa ao mundo de alguém.
Sinta-se à vontade.