segunda-feira, 25 de junho de 2007

Heterónimo Número Três

Aborreces-me
com essas manias
de divisões em caixas estanque,
que não deixam a doçura tocar-se,
fazendo-a sofrer com a separação.

Assim não.
Cria a ligação.

E apaga a luz quando saíres.

sábado, 23 de junho de 2007

Selvagem

Supondo que és eu e que em eu há tu,
quantos tus e quantos eus somam os meus eus e os teus tus?
A matemática deste coração com asas não cabe em sinapses...
Daí que nenhum dos meus eus tenha encontrado um dos teus.
Foste para onde o vento não leva os meus suspiros.
O muro de vidro tapa secretamente um silêncio morto que não nos pertence.
Que mensagens? Que reviravoltas andam lá no meio?
Que identidades trocadas se reviram na miscelânea dos sonhos?
Que tesouros se descobrem a si mesmos dentro de cavernas?

sábado, 16 de junho de 2007

um mundo confuso

a noite empoeirada
ordena-me o movimento...
re vol vo - me na cama:
revolvo-te na memória
lúgubre e ténue
dos momentos felizes.
o luar não me deixa ver,
imagino os traços de um rosto
como se não houvesse tempo.
mas não te sinto aqui.
viro-me para o outro lado
e não durmo outra noite.
..........
demora tanto até as pálpebras
pesarem e fecharem-se sem doer.
abrem-se numa eternidade instantânea
que parecia real.
..........
sonhos doces, os meus.
tens uma coisa no nariz.

domingo, 10 de junho de 2007

13

Quero-te aqui
bem pertinho.

não me deixes
tenho medo...
vem cá. dá-me
um beijo doce
como da outra
vez. olha-me.
profundamente
e devagar com
o ser quieto.
duas palavras
fugazes assim

domingo, 3 de junho de 2007

Silêncio

A expressão que mostras nas fotografias é um ser estranho: não conheço. E então anseio o conhecimento deste novo tu, que me grita aos ouvidos e me preenche a mente. Não sei que arrepios doces ou salgados me provocas, enquanto sabes de cor que os meus olhos te seguem na escuridão do céu, largando-te apenas quando não conseguem mais suportar a exaustão.
Julgam eles que sabem. Sonhos...

sábado, 2 de junho de 2007

agitação nocturna

Não. Não consigo dormir. Não consigo deixar o meu cérebro desligar-se do mundo e esquecer. Até já falo baixinho. Parece que todas as palavras do mundo me entram nos ouvidos ao mesmo tempo. Os lençóis enrolam-se no meu corpo apertando-me no teu corpo imaginado. O calor faz-me querer rasgar a pele e sair de dentro desta morte quente. Suo e quero o tempo. Quero descansar. E não consigo. É então que vejo tudo o que não fiz hoje e que tive uma vontade inconcebível de fazer. Mas falta qualquer coisa. Falta sempre qualquer coisa. Qualquer coisa que não entendo. E que não sei se quero entender.
Mas qualquer coisa.