terça-feira, 15 de dezembro de 2009

projecto ou se as casas não tivessem telhado, dormíamos com estrelas no tecto

vou soprar a poeira dos móveis
sem ninguém saber;
(com cuidado,
para não tossir)
a sujidade entranhada
é a sujidade estranhada
porque parece que não está
lá.

vai mudar tudo de sítio.
tem de ser.
não importa querer
vamos é devagar
para não riscar o chão.

põe ali o tapete,
nesse vaso
plantas plantas.
quantas?
umas tantas
que cheguem para
voltar a dar vida
à vida que a vida não dá.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

o tempo é subjectivo

hoje passa a ser ontem.

ontem escrevo quando quero
e ninguém vê
porque é passado
e as pessoas não olham para trás.

ficarei preso a ontem porque ontem
sou um fumo difuso
na memória de ninguém

e vou ficar aqui porque assim
sou o vidente de amanhã
e mato a surpresa dos dias.

domingo, 12 de julho de 2009

pode ser

tudo é infinito,
mas nada também.
entre tudo e nada,
fico sempre com o meio,
com o copo meio cheio,
da abundância ao bloqueio.

e vendo bem as coisas, aqui estou:
não acabo nada,
mas, por outro lado,
começo tudo.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

"Have a little faith in me"



John Hiatt - Bring The Family (1987)

quarta-feira, 1 de abril de 2009

a noite de um sonho

hoje vou comer a lua
como
quem come
uma talhada de melancia.

hoje vou provar-te o olhar
e, se aprovar,
só eu o posso provar.

hoje vou sonhar que o mundo
é de outra cor
porque não quero esta
e já a sei de cor.

terça-feira, 24 de março de 2009

jogo do mata

vou escrever para não torcer pescoços.
vou escrever e espetar facas;
sentir os gumes afiados
matar como nos filmes.
vou ser um assassino

e escolher
quem morre
e
quem mata
a minha prosa.

segunda-feira, 23 de março de 2009

bolas de sabão

as bolas de sabão são como sonhos que flutuam e rebentam quando tocam na realidade que as envolve.
e mesmo assim não têm medo.

tenho de deixar de guardar coisas em bolas de sabão.
elas vão rebentar de qualquer maneira.

quinta-feira, 19 de março de 2009

É como diz a outra

não sei se me ouço
ou se esta voz é a minha
falta (re)conhecimento

não sei se o que digo
fui eu que pensei
não sei se aqui estou
porque fui eu que mandei
não sei se o que sou
fui eu que criei

não sei se me deixaram marcas
que não consigo apagar
(porque não as consigo entender)

não sei se me dói
(porque prefiro não saber)

sou cego porque não quero ver
e ensurdeço e finjo que não ouço
está tudo bem
se parece que está bem

e bem (ou mal), sou eu outra vez.
resta saber é quem.